O adulto adotivo também precisa de cuidados emocionais.
“Criança interiorˮ é um termo que está em alta. Parece que se tornou imperativo cuidar da criança interior, como uma prerrogativa de saúde mental da vida adulta. Mas a criança interior adotiva ainda aparece muito pouco nesses espaços. E quando aparece, a grande questão é a família de origem e seus impactos.
Mas nenhum ser humano é só a sua família de origem, muito menos uma pessoa adotada. Sua história, suas dores, seus medos, seus traumas, seus sonhos, seus dilemas, seus desafios… É você. Uma pessoa que merece ser vista por inteiro, e acolhida por inteiro. E eu estou aqui para oferecer esse espaço de acolhimento.
Porque o direito a uma família amorosa e saudável precisa vir junto com o direito à saúde mental plena. Junto com o direito à sua história. Toda ela: passada, presente e futura.
Perguntas e respostas
Ser um adulto que foi adotado não é uma “tarefaˮ psicológica e emocional simples.
Hoje em dia, existe todo um processo pensado para proteger as crianças e fazer com que a adoção seja o mais segura possível, mas o Sistema Nacional da Adoção e Acolhimento com todo aparato (e dificuldades) que conhecemos hoje é relativamente jovem.
Até cerca de 20 anos atrás, ainda era muito comum a chamada “adoção à brasileiraˮ. Ou seja, a maioria dos adultos adotados no Brasil ou não passou pelo Sistema Nacional de Adoção ou passou por uma versão anterior, mais morosa e difícil.
Para alguns, a vida seguiu seu curso e pronto, mas para outros a falta do acolhimento adequado deixou marcas emocionais profundas e lidar com elas não é fácil.
Porque fui abandonado? O que houve de errado comigo?
Não sei exatamente o que sinto pela minha família biológica nem pela adotiva?
Quais minhas referências de pais?
O que foi essa adoção na minha vida?
Quem sou eu?
Há poucos espaços de conversa para adultos adotados, poucos profissionais qualificados para tratar de dores que são muito específicas. E pouca gente atenta ao fato de que a adoção não acaba quando a certidão de nascimento muda.
Por isso, eu quero te dizer que esse é um espaço seguro. Aqui você pode encontrar a ajuda que precisa. Não é normal viver com dúvidas, dores e traumas, não importa qual seja a história da sua vida.
Referência é um ponto de apoio para saúde emocional e psíquica de qualquer ser humano. E a falta dela pode gerar ou aprofundar inseguranças, medos, traumas e dificuldades de auto identificação.
Talvez a falta de referências e representatividade, inclusive emocional, seja um dos grandes problemas dos adultos adotivos, no Brasil. O fato de a adoção ainda ser um tabu muito forte e rodeada de preconceitos distancia pessoas que têm sentimentos e vivências parecidos e que poderiam apoiar, reconhecer e validar mutuamente todas aquelas questões íntimas que só sabe de verdade quem sente na pele.
Cada vez mais pessoas estão escolhendo adotar e falando sobre isso publicamente, mas parece que a quebra de tabu, além de lenta, é um benefício exclusivo para as crianças, que estão vivenciando esses processos agora.
É mentira que o tempo cura ou apaga tudo. Tem coisas que só pioram com o tempo. Que precisam de atenção, de cuidado. É preciso ser visto.
E eu quero te dizer que existem, sim, espaços onde você pode ser vista e acolhida, de forma integral e respeitosa.
Vem comigo?
Toda separação é uma quebra de vínculo, mas nesse texto eu quero falar especialmente da separação de bebês no seu nascimento.
O conceito de um bebê como uma folha em branco ainda é tão forte em nossa cultura que até mesmo a ideia de separação do recém-nascido como trauma muitas vezes é deixada de lado, seja em psicoterapia, seja pelos cuidadores das crianças.
Acontece que ignorar um assunto não faz ele deixar de existir, e o trauma não cuidado vai estourar uma hora, de um jeito ou de outro. É o seu caso?
Quando você nasceu, já tinha uma vida (intra-uterina) por até 9 meses. Tudo que seu corpo conhecia até ali eram as sensações, os cheiros, os sons, que o acompanharam neste período. Nascer já é um evento que te faz trocar de ambiente e tudo que você procura, instintivamente, é algo conhecido para se sentir em segurança. Porque segurança é vital para a sobrevivência.
A separação no nascimento é como uma descontinuidade desse ambiente seguro pelo qual todos nós procuramos e pode produzir efeitos traumáticos, desencadeando uma série de defesas ao longo da vida.
Nem sempre esse trauma será dominante, mas ele também não pode ser descartado num processo terapêutico, por exemplo. As crianças têm um enorme capacidade regenerativa e potencial de criar novos vínculos, mas se agora, na sua vida adulta, você sente que essa separação ainda dói, saiba que está tudo bem em não estar bem.
Você tem todo direito de se sentir assim e merece receber acolhimento.